Pela qualidade das perguntas e das respostas, podemos mais uma vez perceber que a Casa acertou em eleger a ambos.
Amigos de infância, há mais de sessenta anos, o agora presidente da Academia Catarinense de Letras conversa com o confrade e ex-presidente Salomão Ribas Junior, experimentado parlamentar e Secretário de Estado na gestão do governador que criou o lema “governar é encurtar distâncias”.
Todavia, o tema solar da conversa é a “Semana de três dias”, na definição bem-humorada que da Semana de Arte Moderna de 1922 faz o entrevistado.
Destaquem-se outros pontos: a elite econômica de São Paulo, muito ligada à Europa, vinda da Gripe Espanhola e da Primeira Guerra Mundial, liderou uma ruptura cultural em busca do novo, provocando inveja e ciúme que persistem até hoje no Rio de Janeiro, que era e não é mais, a principal metrópole do Brasil. E, coisa curiosa, outra ruptura: os paulistas queriam diminuir as comemorações do centenário da independência política, que tinha sido proclamada justamente em São Paulo, “às margens plácidas do riacho Ipiranga”, crase que falta em algumas versões do Hino Nacional. Lembremos este detalhe, pois somos gente de letras.
Salomão Ribas Junior, graças às “provocações” e boas perguntas de Moacir Pereira, sublinha outros significados de certos emblemas, como o fato de o maestro Villa-Lobos subir ao palco com sapato num dos pés e sandália no outro. Já foram feitas exegeses sofisticadas sobre isso, mas o caso é que o músico estava atormentado por um calo dolorido…
A entrada tardia de Santa Catarina para o Modernismo, eclodido no marco que teria sido a Semana da Arte Moderna, deu-se por vários fatores, brevemente comentados também pelo entrevistador, da forma como faz as perguntas. Nosso estado tinha publicado apenas um livro, a Assembleia das Aves, de Marcelino Antônio Dutra. As primícias do Modernismo só serão acolhidas no Estado depois da Segunda Guerra Mundial. Portanto, não é de hoje que tantos eventos dão-se tão tarde em nossa terra, embora o estado tenha sido pioneiro em tantos outros. Temos também nesta entrevista a apreciação de um romance que é referência solar da literatura catarinense: Geração do Deserto, de Guido Wilmar Saci, levado ao cinema por Sylvio Back com o título de A Guerra dos Pelados.
Salomão Ribas Junior destacou ainda o papel da Revolução de 30 na cultura catarinense e deu as linhas gerais da situação atual das letras em nosso Estado, apontando para o “mosaico de etnias” e de culturas, marcas identitárias do estado.
P. S. Lotado de tarefas, continuo editor deste portal enquanto o presidente Moacir Pereira não designa novo responsável, o que espero não demore muito. Agradeço à presteza habitual de Valmor Fritsche. (Deonísio da Silva)