Pesquisa e texto do acadêmico JALI MEIRINHO, Cadeira 30.
DIA 8 – 185 anos do nascimento, em Desterro, do escritor, médico e político DUARTE PARANHOS SCHUTEL, Patrono da Cadeira 7 da ACL. Em 1855 foi diplomado Bacharel em Letras pelo Colégio Pedro II e, em 1861, Médico pela Escola de Medicina do Rio de Janeiro. Em Santa Catarina exerceu a medicina, o jornalismo e foi deputado provincial, reeleito em sucessivas legislaturas, de 1864 até o final do Império. No Clube Literário Fluminense conviveu com Manuel Araújo Porto Alegre, Manoel Antônio Alvares de Azevedo, José Maria Machado de Assis e outros intelectuais da época. Uma significativa parcela da obra de Duarte Schutel, de quando era estudante, foi publicada em revistas literárias e jornais identificadas com a assinatura de Insulano ou das iniciais D.P.S. Desse período é o romance A MASSAMBÚ, publicado em folhetim na Revista Popular, periódico literário da Livraria Garnier e, em 1988, reeditado em livro pela Editora da UFSC. Nesta obra ele descreve a paisagem litorânea catarinense e a gente anônima, inclusive os primeiros imigrantes alemães presentes neste espaço, com as peculiaridades identificadas na atualidade. A queda do Império e a primeira década republicana, em Santa Catarina, foram memorizadas em notas diárias manuscritas contendo as reflexões do escritor e político ante a nova realidade que alcançou o Brasil no final do século 19. Intitulou o texto de A República vista do meu canto. Este original centenário foi editado em livro, com o mesmo título, na Coleção Catariniana do IHGSC, volume 3, em 2002. Em Florianópolis Schutel é homenageado com nome de via pública e de edificação sede de uma unidade sanitária. No ensaio Análise das obras de M. A. Alvares de Azevedo, precedido por breves considerações sobre a poesia no Brasil, refere-se ao poeta barroco, conhecido como “Boca do Inferno”, que foi Gregório de Matos: E bem cedo no Brasil começaram os cantos dos homens! […] No século XVII apareceu a poesia em nosso país: Eusébio de Mattos, o primeiro que avulta por seu saber, que era extenso, e por seu estre religioso, foi nascido em 1629, e logo seguido de seu irmão Gregório de Mattos que com esse rir sombrio da sátira cuspia o escárnio. […] E Gregório de Mattos, o satírico, o improvisador que fazia rir as turbas com seus descantes acompanhados da viola. Gregório de Mattos que fazia margar aos ricos e despóticos a taça dos prazeres que esgotavam, e que, com seu irmão e mais do que ele, ousou primeiro apresentar, bem que rudes, laivos do tipo brasileiro; é esse mesmo velho enfermo e quebrantado que esmolava em 1696, roto e sujo nas ruas de Pernambuco. As turbas o esqueceram: os homens o maldisseram; Deus se amerceou (sic) dele, e nesse mesmo ano o chamou a si. In: Grisard, Iza Vieira da Rosa. Duarte Schutel escritor, médico e político: história de uma vida. Florianópolis: Editora Terceiro Milênio, 1999.
DIA 10 – 85 anos do nascimento, em Gravatal, do escritor MIRO MORAIS (ALTAMIRO DE MORAES MATOS) Titular da Cadeira 20 da ACL. Romancista, o seu primeiro livro, A Coroa no Reino das Possibilidades, foi lançado em 1967. Seguiram-se Cândido Assassino (1982), laureado com o Prêmio Cruz e Souza; O Reino dos Esquecidos (2013) e Caminho sem Volta (2021). No seu discurso de posse na ACL afirmou: A leitura foi e é um bom abrigo. E, confesso, nada me encantou mais do que a “Carta de Pero Vaz de Caminha”. Muito mais do que “Mil e uma Noites”, do que “Ali Babá e os seus 40 Ladrões”; do que “O Tesouro da Juventude”, lido na infância. A descrição de Caminha do encontro do desconhecido novo mundo, com o desconhecido velho mundo, ele, sem tirar os pés da praia, fazendo daquele cenário uma realidade de grandes riquezas, está acima do imaginário de qualquer escritor. E dentro de sua descrição fantástica, creio que ali ele antecipava o real Brasil de ontem e de hoje. Hospitaleiro. Grande e rico. Abundante e nu. Como os índios de então. Na eterna luta entre dominantes e dominados. In: Revista da Academia Catarinense de Letras, Ano XLVII nº 27. Florianópolis, período de 2013 e 2014.
DIA 24 – 30 anos da posse da escritora URDA ALICE KLUEGER, Titular da Cadeira 2 da ACL, recepcionada pelo acadêmico LICURGO RAMOS DA COSTA, segundo ocupante da Cadeira 37 que, impossibilitado de comparecer, teve seu discurso lido pelo acadêmico NAPOLEÃO XAVIER DO AMARANTE, Titular da Cadeira 29 da ACL. Nos seus primeiros livros Urda Klueger incursionou pelo romance, tendo como protagonistas os imigrantes e seus descendentes no Vale do Itajaí, com os livros: Verde Vale, No Tempo das Tangerinas, Vem, Vamos Remar e Cruzeiro do Sul. Publicou relatos de viagens: Recordações de Amor em Cuba II, Entre Condores e Lhamas e Histórias D’além Mar. Em O Povo das Conchas alcança os humanos na pré-história no litoral catarinense. Também possui títulos na literatura infantil. Ao tomar posse na ACL, revelou: Já no Ginásio, no Colégio Normal Pedro II, aos quatorze anos, aconteceu-me a maior magia até então: conheci um escritor de verdade! De certo modo, de certo modo eu acreditava que os escritores eram pessoas mortas, pessoas que haviam vivido em outras épocas, e, de repente, conheci um escritor vivo, real, que falava, comia, andava, tinha amigos e até tomava banho de mar. Que grande surpresa foi aquela! Tratava-se do grande poeta catarinense Marcos Konder Reis, meu querido, queridíssimo amigo desde então, pessoa a quem muito devo e que muito queria que estivesse aqui neste momento. Marcos foi a pessoa que me iluminou os caminhos: deu-me a luz de ter coragem, deu-me a luz para encarar como coisa séria a minha mania de escrevinhar, deu-me a luz para publicar meu primeiro livro, e me ilumina hoje, com o que escreve e com a calidez da sua amizade. In: Revista da Academia Catarinense de Letras nº 11. Florianópolis, 1992.