Abrimos vinheta nova para publicar artigos de autores catarinenses sobre temas referenciais ou de domínio conexo da celebração de vultos de nossa terra que fizeram por merecer o reconhecimento de suas qualidades, ainda que às vezes este reconhecimento tenha demorado ou tenha vindo primeiramente de fora do Estado e somente depois tenha sido acatado também pelos catarinenses.
Entendemos que é nosso dever organizar as ideias, seus temas e problemas, e trazê-los ao conhecimento pela via privilegiada de um portal deste perfil.
Estreamos com uma boa notícia: em agosto próximo, o Grupo Editorial Almedina lançará, no Brasil e em Portugal, o livro Balada por Anita Garibaldi & Outras Histórias Catarinautas, de Deonísio da Silva, acompanhado de um texto do senador Esperidião Amin.
Leia a seguir pequena amostra do livro, cuja história-título foi publicada ainda nos anos 80 em Porto Alegre, pela Editora Mercado Aberto, e em 2010 em São Paulo, pela Editora Leya. Na primeira coleção estava no livro Tratado dos Homens Perdidos. Na segunda, no livro Contos Reunidos.
Boa leitura a todos.
Desta casa, em Laguna (SC), Ana de Jesus, que depois seria Anita Garibaldi, saiu toda arrumadinha, ainda adolescente, para casar-se com o sapateiro Manoel Duarte de Aguiar.
VII
Os idos de agosto
O casamento deles teria sido uma daquelas fatalidades do oitavo mês, tão lamentadas pelos catarinenses e brasileiros em geral. O pai dos pobres não se suicidou num agosto? Pois Anita casou-se em outro! Mês de cachorro louco, agosto dava um péssimo marido à heroína, e arrimo nenhum à sua mãe. A freguesia da Igreja Matriz de Santo Antonio dos Anjos de Laguna assistia a mais um desses casamentos fadados a um triste fim. Entre tantas diferenças, havia ainda a da idade. Casaram-se uma menina que adolescia e um homem que, de tão maduro, envelhecia.
Agosto perseguiu Anita a vida toda e foi em outro agosto fatal que ela morreu, em plenos 28 anos, numa boca da noite de um findar de dia 4, em 1849. Derrotada em Santa Catarina, nos combates pela proclamação e consolidação da República Juliana; derrotada na Guerra Farroupilha, cujas lutas não foram suficientes para fazer com que adolescesse a república-irmã, a Piratini, ela, entretanto, depois de derrotas e vitórias no Brasil, Uruguai e Itália, morria com um filho no ventre. Como as repúblicas que ajudara a proclamar, o filho morria antes de nascer. Mas, como se sabe, outros filhos seus vingaram e outras repúblicas, semeadas em solo latino-americano, nasceram em terra hostil a repúblicas, e, mesmo cortadas e mutiladas diversas vezes, não foram banidas do solo que Anita pisara, e vicejavam aqui e ali, nos verões que se seguiram. (fim) (este texto é parte do livro citado).