Seguindo projeto de compartilhar amostras da produção literária de escritores catarinenses, publicamos artigo de Jali Meirinho, integrante da Academia Catarinense de Letras, referência desta e de outras entidades às quais pertence, sempre atento a preciosos acontecimentos histórico- literários do Estado e do país”.

Por Jali Meirinho

Para esta edição comemorativa da centésima edição da Revista HC tivemos a honra de contar com um artigo do professor e historiador Jali Meirinho, membro emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. Ele apresenta uma retrospectiva do surgimento das grandes Revistas de História do mundo e do Brasil. Neste contexto o professor Jali comenta a importância da HC nos seus 15 anos de circulação.

Os periódicos de divulgação científica, em todos os seus segmentos, têm a mesma contemporaneidade da imprensa. Às suas antiguidades associa-se a perseverança dos seus editores. Na História, como Ciência, o Brasil detém uma das mais longevas publicações de todo o Planeta: a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, editada desde 1839, com 180 anos de publicação regular.

Em todo o mundo, a mais antiga revista é a Historische Zeitschrift, publicada em Leipzig, desde 1859. A Revista Storica Italiana é de 1886. A norte-americana American Historical Review, surgiu em 1895.

Nas universidades brasileiras, programas de estudos históricos mantêm publicações destinadas à divulgação da produção científica. Atualmente, a maioria optou pelo formato digital, de alcance restrito aos estudiosos da matéria. Neste elenco inclui-se a Revista de História, da Universidade de São Paulo, que já alcançou 70 anos.

Fundado em 1896, o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, que, pelo acervo acumulado em seus 124 anos, é a Casa da Memória Catarinense, edita, desde 1902, a sua Revista – Acadêmica, de circulação interna, e que tem o mesmo nome do Instituto. Fragmentada em três fases, teve a primeira interrompida em 1921, a segunda mediou os anos de 1943 e 1944, consolidando-se a partir de 1979 com publicação anual até este segundo decênio do século XXI.

Periódico singular no Estado é Blumenau em Cadernos, uma publicação de âmbito local, datado de 1957, alcançando 63 anos de regular periodicidade, sob os auspícios da Fundação Casa Dr. Blumenau, daquele município do Vale do Itajaí.

A Revista do IHGSC e Blumenau em Cadernos alcançaram longevidade e sobrevivem pela obstinação dos seus idealizadores, assimilada pelos que os sucederam.

No ano de 2005, a Fundação Biblioteca Nacional lançou a sua Revista de História, uma concepção moderna para divulgar textos de conotação científica. Um modelo popular com conteúdo em linguagem jornalística, sem perder o cientificismo. Sob a tutela oficial sobreviveu até o ano de 2017. Foi em concepção similar que, em 2006, nasceu, em Lages, e foi lançada no mercado editorial catarinense, a Revista HC, sem contar, entretanto, com aquela retaguarda mantenedora da sua aparentada nacional.

Um marco, História Catarina, uma revista em papel quando a via eletrônica se consolidava, era difícil preconizar seu futuro vitorioso. A iniciativa parecia utópica, com aquele surpreendente número 01 competindo em qualidade gráfica com conhecidos magazines nacionais. Ao observador, a dúvida do sucesso centrava-se no público leitor, um sujeito complexo que foi conquistado pelo estilo de síntese que o editor adotou. Passados 15 anos, surpreendentemente, a Revista atinge o seu centésimo número.

Inovando a cada edição, seus colaboradores comparecem com revelações marcadas pelo ineditismo. Aberta à temática global, a prioridade contempla o estadual nas suas diversidades culturais. Muitos dos artigos da revista História Catarina lembram que, no território catarinense, ocupado pelas três matrizes iniciais do povoamento brasileiro, a presença, a partir do século XIX, dos europeus latinos, germânicos, eslavos, ao lado de outros segmentos, amalgamou a riqueza das etnias que constituem a população deste estado.

Nos conteúdos da História Catarina estão instrumentos para o processo de educação e formação intelectual, multidisciplinar, com subsídios para entender a História em relação a suas afinidades com Sociologia, Política, Economia, Antropologia, Geografia e outras disciplinas. Matérias de qualidade, em que a síntese não abstrai o conteúdo. A cada edição expõe indicativos para reflexões sobre o contexto para interpretações coerentes. Cabe lembrar que o passado não permite inventores nem tutores; um requisito encontrado nestas páginas, onde a História se mantém viva para reflexões.

Nesta centena de edições, que agora se completa, o que é uma grande conquista para uma revista de História, disponível ao público em geral, os historiadores e estudiosos de ciências afins, que se fizeram presentes nestas páginas, cumpriram missões. Entretanto, coube a um editor, tão completamente catarinense, o mérito deste êxito, por tudo que soube e tem sabido apresentar nesta revista. É seu idealizador e condutor Cláudio Rodrigues da Silveira, que vive, que sente, e que admira a História. A ele todos os méritos, na esperança de que se reproduzam outras centenas de edições, numa fecunda, útil e necessária caminhada na busca e na exposição da nossa historiografia. HC

Jali Meirinho é professor da Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC. Membro Emérito do IHGSC. Autor de vários livros de História, entre eles Datas Históricas de Santa Catarina – 1500/2000, que, desde o primeiro número da Revista HC, em 2006, há 15 anos, vem embasando a elaboração da Coluna que apresenta aos leitores as datas em que ocorreram os principais eventos históricos do Estado.

Publicado orginalmente emTribuna do IHGB:

https://www.ihgb.org.br/tribuna/571-hc-numero-100.html

Foto: reprodução da capa do número 1 da Revista História Catarina