Por VALMOR FRITSCHE, jornalista – SC-277-JP

Em solenidade realizada na noite de ontem (13/07), no auditório da Casa José Boiteux, em Florianópolis, a Academia Catarinense de Letras (ACL) fez a entrega do Prêmio Catarinense de Literatura 2022. As obras foram selecionadas por uma Comissão Especial presidida pelo Acadêmico Péricles Prade (Cadeira 28) e integrada pelos Acadêmicos Oldemar Olsen Jr. (Cadeira 11) e Miro Moraes (Cadeira 20). O poeta Alcides Buss foi um dos destaques, com o reconhecimento pelo Conjunto da obra.

Além dele, outros escritores foram premiados, em seis categorias: Romance (com a obra Um crime bárbaro, de Ieda Magri); Conto (com o livro Marinheira de açude, de Michelli Provensi); Poesia (que premiou a obra Tanatografia da mãe, de Isadora Fóes Krieger); Ensaio (com Clarice Lispector ou a flutuação do instante, de Jayro Schmidt); Crônica (com o livro Cartas Catarinenses, do jornalista Luiz Henrique Tancredo); e História (cuja obra foi História de Santa Catarina na Primeira República, de Ana Lice Brancher e Vanderlei Machado).

A sessão foi presidida pelo Acadêmico Moacir Pereira (Cadeira 3), que representou o presidente da ACL, Salomão Ribas Jr. (Cadeira 38), impedido de comparecer por motivo de saúde. Também compuseram a mesa o presidente da Academia Catarinense de Letras Jurídicas (ACALEJ), José Isaac Pilati (Cadeira 14, da ACL), o presidente da Academia de Medicina do Estado de Santa Catarina (ACAMESC), Luiz Alberto Silveira (Cadeira 35, da ACL), a secretária da ACL, Maria Tereza de Queiroz Piacentini (Cadeira 21) e o presidente da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Rafael Nogueira da Silva.

OS DESTAQUES

O presidente da comissão especial julgadora, Péricles Prade, fez uma breve apresentação das obras premiadas na edição de 2022 e ressaltou o alto nível dos trabalhos. “O romance Um crime bárbaro me surpreendeu positivamente, pois, ao contrário do que poderia dar a entender pela simples leitura do título, a história traz o caso de uma menina mutilada, fato ocorrido há muitos anos no interior de Santa Catarina, e prima pela literariedade e por uma concepção moderna do romance, usa uma linguagem simples, mas com o domínio do ofício, que instiga a leitura, dando conta da complexa tarefa que é tratar de um delito desta natureza”.

Na categoria poesia, Prade comentou rapidamente a obra Tanatografia da mãe, um longo poema, com o uso de fractais, “serve-se de sucessivas imagens para retratar esse profundo vínculo afetivo entre mãe e filha”. A tanatografia, ele explica, é a escrita de morte ou sobre a morte, que trata das questões que nos assombram quanto mais o tempo avança. “Este livro traz um lirismo amoroso, que há certo tempo deixou de ser contemplado por poetas de expressão literária, mas que trata esse sentimento profundo com uma linguagem literária cativante”.

O livro de contos escolhido, Marinheira de Açude, versa sobre as mitologias familiares ligadas ao oeste de Santa Catarina. “Revela, por meio do glossário de uma linguagem muito própria, as dores e os prazeres mais profundos dos personagens e guarda uma empatia literária extraordinária”, explanou o presidente da Comissão Especial da ACL.

Sobre o livro Cartas catarinenses, escolhido como o melhor na categoria crônica, Péricles Prade confessou que defendeu a escolha, mesmo com certa preocupação de que a obra não estivesse na categoria correta. “De um tempo para cá, esse gênero textual passou a ter uma amplitude maior, abrangendo diversas vertentes, a poética, a dissertativa, a descritiva, a jornalística, como também a chamada crônica de natureza histórica, que é o caso do livro do jornalista Tancredo, que constrói sua narrativa a partir da relação epistolar entre os personagens pinçados na obra”.

Quanto ao livro de ensaio, o selecionado foi Clarice Lispector ou a flutuação do instante, cujo autor é um crítico literário e professor de artes visuais, além de um grande artista, pintor e gravurista reconhecido. “A obra gira em torno do que é conhecido como o epicentro da escritora Clarice Lispector, o romance Água Viva, e aborda A hora da estrela e outros livros como Coração Selvagem e tantos outros sucessos da proeminente autora”.

Outro livro que mereceu uma atenção especial da comissão especial da ACL foi História de Santa Catarina na Primeira República, composto por estudos de inúmeros historiadores que esquadrinham o período de 1989 a 1930, abordando com profundidade, por exemplo, as disputas de terra no oeste do estado, numa guerra cruel que durou quatro anos (1912 a 1916) e dizimou boa parte da população da região. “A obra relata com apurada técnica acadêmica a resistência de indígenas, as organizações de populações negras, os movimentos de trabalhadores, as instituições judiciárias, a política externa, entre outros temas”, disse o presidente da comissão especial.

Ao final, Péricles Prade fez uma saudação especial ao grande homenageado da noite, o poeta Alcides Buss, cuja trajetória se inicia nos anos de 1960, quando se destaca entre grandes nomes do cenário literário nacional, com o seu “Varal Literário” e nos movimentos da chamada poesia independente. “O conjunto da obra de Alcides Buss merece mesmo todas as considerações positivas, desde o primeiro livro, Círculo quadrado, até o mais recente, A culpa está morta – e outros poemas, que reúne poemas inéditos escritos e reescritos nos últimos 10 anos. Professor, conhecedor da técnica poética, editor, ensaísta – com destaque para o texto sobre Cobra Norato –, um intelectual brilhante que contribuiu e continua contribuindo para a literatura catarinense, Alcides Buss é grande merecer desta homenagem e de todas as honras que vem recebendo mais recentemente”.

Depois de receberem os certificados do Prêmio Catarinense de Literatura 2022, os escritores fizeram breves pronunciamentos, momento em que tiveram a oportunidade de falar um pouco de sua produção e também de agradecer aos profissionais envolvidos na produção dos livros.

INCENTIVO AO LIVRO

O presidente da FCC, Rafael Nogueira da Silva, anunciou a publicação da portaria n. 95, de 10 de julho, que retoma os trabalhos da Comissão de Organização e Acompanhamento do Edital de Aquisição de Livros – COCALI 2023, que será coordenada pelo servidor Luiz Nilton Corrêa. A ideia, segundo o presidente da FCC, é contemplar neste edital também os livros premiados pela ACL para a distribuição em escolas e bibliotecas do estado: “Queremos dinamizar o setor do livro, incentivar a leitura e formar novos leitores. Vamos lançar novos editais relacionados ao livro e à literatura”.

NOVOS LANÇAMENTOS DA ACL

O presidente da mesa, Moacir Pereira, anunciou também a edição de novas obras de Acadêmicos da ACL, que serão lançadas coletivamente em evento a ser agendado em breve. São cinco os livros publicados, com selo da Dois Por Quatro Editora, de Florianópolis: Os dois mundos de Verena, de Umberto Grilo (Cadeira 22), As razões de punir, de Gilberto Callado de Oliveira (Cadeira 39), Manoel e outros Osórios: memórias osórias fragmentadas, de Amilcar Neves (Cadeira 32); Natal na casa dos leprosos, de David Gonçalves (Cadeira 40) e Godofredo de Oliveira Neto: a vida pela literatura, do Acadêmico Moacir Pereira.