Pesquisa e texto do acadêmico JALI MEIRINHO, Cadeira 30.
DIA 4 – 130 anos do nascimento, em São José, do professor, jornalista, escritor e ensaísta ALTINO CORSINO DA SILVA FLORES, Fundador da Cadeira 23 da ACL. Aluno dos jesuítas no Ginásio Catarinense, em Florianópolis, tornou-se professor e no limiar do século XX foi uma das expressões da geração que idealizou e fundou a Academia Catarinense de Letras. Foi diretor-proprietário do diário O ESTADO entre 1926 e 1945, jornal com destaque na imprensa catarinense durante todo o século passado. Em 1932 fundou a Associação Catarinense de Imprensa. Parte superlativa da sua obra literária acha-se reunida no volume 27 da Coleção ACL. Em Do Sonho à Miséria e à Morte analisa a obra do poeta ANTERO DOS REIS DUTRA, Patrono da Cadeira 2, figura sofrida da qual se aproximou, mas na crítica não o poupa, embora condescendente ao afirmar: Porém, merecida homenagem lhe prestaremos, se pusermos em relevo algumas de suas composições poéticas, as quais, apesar dos desacertos estruturais e estilísticos, estão a demonstrar que Antero, no seu tempo, teria sido apreciável poeta, se tivesse conseguido cultivar a inteligência em metódico estudo e temperado o talento no manuseio dos grandes mestres da Prosa e dos lídimos artistas do Verso, a que nenhum escritor in limine deve esquivar-se, embora muitos deles, ao chegarem à maturidade, bazofiem de jamais tê-lo seguido. In: Flores, Altino. TEXTOS CRÍTICOS. Florianópolis: Academia Catarinense de Letras 2006. ( ACL: 27)
DIA 4 – 55 anos da morte, em Petrópolis (RJ), do advogado, jornalista e político IVENS BASTOS DE ARAÚJO, segundo ocupante da Cadeira 9 da ACL. Amazonense, veio para Florianópolis ainda jovem, onde estudou no Ginásio Catarinense e, depois, formou-se na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro na turma de 1926. Em Santa Catarina exerceu o cargo de Secretário do Interventor Aristiliano Ramos. Em 1935 foi eleito Deputado Estadual e relator da Constituição do Estado promulgada naquele ano. Entre 1938 e 1941 foi Secretário de Segurança Pública do Interventor Nereu Ramos e em 1945 ocupou a Secretaria de Interior, Justiça, Educação e Saúde. O seu ingresso na Academia Catarinense de Letras tem registro em documento de 17 de fevereiro de 1938, sem o cumprimento do rito protocolar de posse. Os seus textos escritos encontram-se dispersos em jornais, nos discursos parlamentares e em publicações oficiais dos órgãos públicos onde atuou. O acadêmico Gustavo Neves, Fundador da Cadeira 32, em sua coluna no jornal O ESTADO de 12 de fevereiro de 1967, escreveu: “De Ivens de Araújo não haverá que recordar apenas uma grande amizade pessoal, senão ainda e principalmente uma inapagável folha de serviços prestados à gleba catarinense […] Ivens foi, se bem me lembro, líder do Governo na então Assembleia Constituinte e, depois, na Assembleia Legislativa. Mereceu o relevo. Equilibrado, culto, excelente ânimo cívico, sabia dizer com propriedade e correção e sabia pensar com discernimento e oportunidade. Era rápido e cortante nas réplicas, mas sempre elegante, sereno e bom. Vejo-lhe, pelo prodígio da memória que me é lúcida, o porte nobre, a compostura desestudada quando, na tribuna, improvisando com admirável fluência e alinho gramatical, propugnava uma tese, ouvido com respeito pelo plenário da casa legislativa e pelas galerias. Devo explicar que estávamos vivendo uma das fases mais brilhantes dos anais parlamentares de Santa Catarina, do ponto de vista dos debates, pelos quais um grande público manifestava sempre muito interesse. In: O ESTADO, Florianópolis, 12 de fevereiro de 1967.
DIA 13 – Um ano do falecimento, em Florianópolis, do magistrado, poeta, contista e enólogo EDSON NELSON UBALDO, terceiro ocupante da Cadeira 12 da ACL. Natural de Cerro Negro, no planalto catarinense, no conto de sua autoria Badalo Castelhano descreve os efeitos do progresso na região: Lá pras bandas do Cerro Negro, entre as coxilhas e os capões estendia-se a velha fazenda São Francisco de Natércio Silva de Souzamundo, o Coronel Mundinho. Um mundaréu de gado pastando nas canhadas, cavalhada de primeira linha e milhares de araucárias intocadas atestavam a fortuna bem cuidada. […] Olhava com profunda preocupação as mudanças de hábitos que tomavam conta da região. De fato, a chegada dos primeiros veículos e das primeiras serrarias estavam revolucionando os costumes e a economia. O pinheiro, antes queimado para dar lugar às roças, passara a valer dinheiro, com o qual os fazendeiros compravam jipes e frequentavam a zona do meretrício da cidade. Enquanto as araucárias duraram, não existiu china pobre. Tudo era luxo, alegria e canção. In: ACL: ANTOLOGIA 2. Florianópolis: Academia Catarinense de Letras, 2004.
DIA 17 – 55 anos da morte, em São Francisco do Sul, do escritor e historiador CARLOS DA COSTA PEREIRA, segundo ocupante da Cadeira 4 e, por disposição estatutária, Patrono da Biblioteca da Academia Catarinense de Letras. No período entre 1938 e 1958 foi Diretor da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina, com alguns interregnos enquanto exerceu outras funções na administração estadual, como Secretário do Interventor Udo Deeke entre fevereiro de 1946 e março de 1947. Foi tradutor de Viagem à Província de Santa Catarina por Auguste de Saint-Hilaire, editado na Coleção Brasiliana da Editora Nacional em 1936, e de A Província de Santa Catarina e a Colonização do Brasil por Léonce Aubé, na Revista do IHGSC, edições de 1943 e 1944. Na sua obra, em edições póstumas, figuram: A Revolução Federalista de 1893 em Santa Catarina (1976); Riscos e Traços (1978); Traços da Vida da Poetisa Júlia da Costa (1982); História de São Francisco do Sul (1984) e Minhas Memórias (1996). No livro sobre os acontecimentos de 1893 em Santa Catarina, Costa Pereira narra: Em conversa com o jornalista João Iberê da Cunha, só muitos anos mais tarde publicada, contou Lauro Muller que, terminada a revolução procurara Floriano Peixoto a fim de apresentar-se e também despedir-se por ter de vir a Santa Catarina. O Marechal estava injustamente prevenido contra Lauro Muller; mas, nesse encontro, acabara vindo às boas. “No dia seguinte – prosseguiu em sua conversa o nosso ilustre conterrâneo – embarquei para Santa Catarina. Floriano foi a bordo avistar-se com as forças, um batalhão que seguia para lá. Encontramo-nos no tombadilho. Ele queria escrever ao Coronel Moreira Cesar, governador militar de minha terra. A bordo havia papel, mas não se encontrava envelope e a pena não prestava. Ofereci carta-bilhete e lápis-tinta. Aceitou, escreveu, deu-me a carta fechada para entregar, apertei-lhe a mão, cada um de nós seguiu o seu destino. Mandei entregar a carta ao governador militar. No mesmo dia recebia a visita do Coronel Moreira Cesar que, desde então, nada fez sem me consultar. Acabei muito amigo de Floriano. Anos depois, já ele morto, às vésperas de partir para Canudos, sua última comissão militar, Moreira Cesar me fez presente desta carta, que só então eu li. Se eu fosse santo, não desejaria ter outro panegírico… Quanta perseguição, quanta violência, quanta lágrima, quanto luto e quanta dor essa pequenina carta poupou a Santa Catarina.” In: Pereira, Carlos da Costa. A REVOLUÇÃO FEDERALISTA DE 1893 EM SANTA CATARINA. Florianópolis: Governo do Estado, 1976.