Cumprindo propósito, já a todos anunciado, de divulgar a obra de autores catarinenses, chamamos a atenção dos visitantes deste portal para o novo livro do escritor David Gonçalves, imortal da Academia Catarinense de Letras, que mora em Joinville (SC).
Nossa Academia procura olhar as letras catarinenses para além de Florianópolis, centro da vida social, política e literária no Século XX, nos albores de sua fundação e nas décadas seguintes.
Mas, neste novo século, importantes autores, dentre os mais representativos, em todos os ofícios da técnica e da arte de escrever, não mais residem na capital.
David Gonçalves é um deles. Degustem a amostra de sua prosa no novo livro que acaba de lançar, seguida de breve resumo e de algumas tintas biográficas.
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Abaixo de qualquer coisa
David Gonçalves
Abaixo de qualquer coisa revela um escritor voltado para as condições humanas num mundo caótico, fruto do êxodo rural, a partir da grande geada negra que dizimou os cafezais do Norte do Paraná em 1975. As personagens são boias-frias, lavradores, uma geração viva sem terra e futuro, que foram expulsas de suas terras e perambulam pelas periferias das médias e grandes cidades, formando chagas sociais disformes e crescentes.
Nenhuma narrativa se encerra no simples ato de narrar pelo prazer da linguagem; mas carrega no interior do discurso a chaga da condição humana, advinda das origens do homem e, principalmente, aquela que se transmite pela inclemente vontade de possuir. O resultado é a miséria de muitos, explorados pelos poucos semelhantes que tem no ter a razão da existência e, não, no ser, que seria a consumação da identidade ontológica.
O realismo desses contos muitas vezes choca o leitor; mas se vivemos em uma sociedade em que o absurdo se transforma em ato corriqueiro e quotidiano, só a verdade crua e nua pode tocar as pessoas e fazê-las pensarem o mundo e a si mesmas no tempo e no espaço da história. Se o homem é um mal incurável, não será a literatura que o irá redimir; mas, pelo menos, mostrá-lo como ele é, a fim de que se divirta, olhando-se no espelho da realidade.
