DIA 1 – 135 anos do nascimento, em São Francisco do Sul, do escritor e poeta ARNALDO CLARO DE SÃO THIAGO, primeiro titular da Cadeira 19 da ACL. Recepcionando a poetisa CASTORINA LOBO DE SÃO THIAGO, segunda ocupante da Cadeira 10, disse ele: A poesia, a verdadeira poesia, inspirada por nobres impulsos da alma, não morre, dá muitos giros em volta da história, repetindo em cada novo ciclo que reproduz o passado, o mesmo diapasão da crítica ou do aplauso e quando, por fim, os acontecimentos sociais não lhe exigem mais esse clamor de correção e de justiça, queda-se para sempre em seu trono de luz, de onde continua eternamente a iluminar os que deixam os caminhos das planícies, para galgar as devesas íngremes que a levam à imortalidade. In: SIGNO – Revista da ACL nº 3, 1970.
DIA 1 – 100 anos da eleição do jornalista e escritor TITO LÍVIO CARVALHO, primeiro titular da Cadeira 13 da ACL. O seu Bulha D´Arroio, impregnado de regionalismo, foi editado em 1939. Do conto que dá título ao livro extraímos: Eu ia galopando, ia petiço, pela estrada do Rabungo, levar uma riconvência ao Chico Brogado. Não que fugisse, que eu cá nunca arreciei boi no palanque, nem Jaços por esses chãos de Deus… Mas, como falava – ia galopando, cortando no meu matungo essas coxilhas e canhadas. Ao descer um tope, perto do Lageado Velho, onde corre o Arroio Pequeno, senti bulha na água. Sofrequei o tostado. Timbrei logo dois pungas – eu ia no rasto. In: Vida Salobra e Bulha D´Arroio, Florianópolis: FCC, 1992.
DIA 6 – 89 anos da morte, em Florianópolis, do jornalista HAROLDO GENÉSIO CALADO, Fundador da Cadeira 35 da Academia Catarinense de Letras.
DIA 15 – 8 anos da posse do escritor MIRO MORAIS, Titular da Cadeira 20 da ACL, recepcionado pelo Acadêmico PINHEIRO NETO, Titular da Cadeira 24 e seu presidente no período 2018-2020. No romance O Reino dos Esquecidos, Morais conta: E, agrupados ao redor do globo terrestre, em cima de uma mesa, rodavam sobre o mundo, enquanto Sebastião Parente, filho de Pedro Parente, o navegador que abandonou o comando da nau Esperança para seguir para Bravatá entre os primeiros fundadores, explicava: – Não esqueçam que o círculo é um quadrilátero com ângulos perfeitos e lembrem-se: o planeta em que vivemos é menor do que um grão de areia. In: O Reino dos Esquecidos, Florianópolis: Insular, 2013.
DIA 19 – 11 anos do falecimento, em Florianópolis, do romancista e contista HOYÊDO DE GOUVÊA LINS, quarto ocupante da Cadeira 11 da ACL. Do seu miniconto Pseudônimo: Folheei daqui, folheei dali, anotei certos nomes, mas tive que rejeitá-los, um a um. É que aquela turma da mitologia, de um modo geral, era titular de biografias nada edificantes. Salvo algumas exceções (haverá outras, mas é claro que não consultei todas os verbetes) deparei com casos repetidos de inveja, traições, assassinatos, perseguições, adultérios, sequestros, intrigas, trancinhas entres supostas amigas do peito a fuxicos de despeitadas inimigas cordiais, além de delações, inconfidências, estarrecedoras variações de como conquistar o marido de umas e eliminar a mulher de outros. In: Histórias Avulsas, Florianópolis: Garapuvu, 2005.
DIA 21 – 5 anos da posse do escritor e filólogo DEONÍSIO DA SILVA, quarto ocupante da Cadeira 5 da ACL, recepcionado pelo Acadêmico SÉRGIO DA COSTA RAMOS, Titular da Cadeira 19 da ACL. Autor do romance Lotte & Zweig, Deonísio revela o pensar do personagem: Escritor é viciado em livros. Não apenas os escreve, mas os lê, ama, convive com eles como se fossem amigos. O melhor amigo do ser humano não é o cachorro, é o livro. O cachorro é submisso; o livro, não! O ex-amigo te ofendeu ou te traiu, o livro, não! Você pode abandoná-lo na estante, mas ele será sempre o mesmo e só mudará se você mudar antes de o ler, já que cada livro é outro a cada leitura. Escritor é assim: vai morrer hoje, mas morre pensando no seu vício. In: Lotte & Zweig, São Paulo: Leya, 2012.
DIA 25 – 10 anos da eleição do escritor OLDEMAR OLSEN JÚNIOR, Titular da Cadeira 11 da Academia Catarinense de Letras. Em Memórias de um fingidor, conta: Uma vez surpreendi o secretário oferecendo para a mulher um “cálice de vinho”. Um cálice de vinho, repeti, deveria ter perguntado se ela queria uma “taça de vinho”, mas não um cálice, que era usado para beber licor após as refeições. O cara tinha “boça”, mas não tinha educação. O velho maneirismo de sair da pré-história para a internet sem um estágio intermediário de civilização estava fazendo falta. In: Memórias de um fingidor, Florianópolis: Insular, 2010.
DIA 27 – 88 anos do nascimento, em Florianópolis, do escritor, contista e cronista JOÃO PAULO SILVEIRA DE SOUZA, terceiro ocupante da Cadeira 33 da ACL. Da sua crônica Janela de Varrer, retiramos: Comecei varrendo o medo pelas notas baixas no colégio, varrendo a importância mesma do colégio. […] Varri vários dias de tristeza e tédio. Mais tarde varri as doutrinas religiosas e os preconceitos de qualquer espécie. […] Hoje, na medida em que o mundo ou a mídia me saturam a alma ou me corrompem o espírito, eu vou varrendo e varrendo. Certa ocasião, confesso, pensei em varrer Deus, mas daí me dei conta que ninguém sabe quem é Deus, que no mínimo que se pode dizer dele ou Dele foi dito pelo místico Bayazid de Bistun e isso, pasmem, à maneira de Guimarães Rosa: “Fui de Deus em Deus, até que eles gritaram de mim em mim: ó tu eu!” É impossível varrer isso. In: Contas de Vidro, Florianópolis: ACL, 2002, vol. 20 Coleção ACL
DIA 30 – 14 anos do lançamento, na Academia Catarinense de Letras, do livro Da Terra da Cucanha, de autoria do Acadêmico JOSÉ CURI, Titular da Cadeira 18 da ACL. No conto A Madonina ele descreve: Enquanto a “mama” preparava a polentina, Bruno ficava-se a contemplar as gotas de chuva que estudavam tabuada no fio da enorme antena de rádio, amarrada no alto de dois bambus bem em frente à casa. O desnível dos bambus as agregava para uma soma infinita de lágrimas. A chuva miúda, mordente, tornara-se teimosa, e os lírios abriam a boca de cinco lábios puros, e engoliam engasgadoramente pingos. Algo desconhecido na natureza raivosa terá envergonhado o sol já que ele mergulhou em nuvens faz mais de uma semana. Foi um Deus, com certeza, que só colocou o azul dos olhos dela na minha frente. E esta cadência da chuva que me morde a vontade de sair e ir buscá-la? In: Da Terra da Cucanha (Contos e Cronicontos), Florianópolis: Ed. Garapuvu, 2007.