Maria Tereza de Queiroz Piacentini (Cadeira 21)

Estive em Londres pela primeira vez em 1972, com uma tia e seu neto. Era fevereiro e fazia um frio danado; entrar nas lojas aquecidas era assim um grande conforto. Um dia, enquanto minha tia se inteirava da moda feminina no andar superior da famosa Harrods, eu me dirigi ao Toilet, acessível apenas depois de galgar uns sete degraus. Ao pé da escada uma senhora de bengala, vestindo elegante tailleur e chapéu, me pede ajuda para subir até o toalete, todo rosado e espaçoso, onde havia poucas mulheres.

Depois de estarmos prontas, eu lhe ofereci novamente o meu braço para descer a escada. Aí ela olha bem para mim e pergunta: “Você é italiana?” E eu, embasbacada: “No, ma’am”. “É espanhola?” Repeti “no”. E antes que ela tentasse outra nacionalidade, adiantei: “Sou brasileira”.  Escuto um Ah! e os seus agradecimentos pela minha gentileza. Ela conclui dizendo ser a irmã (sister, em inglês) da rainha-mãe. Ainda perplexa, fui atrás de uma foto da família real britânica, dessas em que aparecem todos os seus membros, e lá estava ela, cabelinhos brancos, sentada e sorridente, a mesma simpatia. Perto dela se encontrava a rainha-mãe, chamada The Queen Mother por ter o mesmo prenome da filha rainha: Elizabeth.

Quarenta anos depois, num acesso de nostalgia, resolvi fazer uma pesquisa na internet sobre a família real mais conhecida do planeta, quando descubro que na década de 1970 a rainha-mãe não tinha irmã viva, mas apenas uma cunhada (sister-in-law, em inglês), viúva do seu irmão David Bowes-Lyon (1902-1961), de nome Rachel Pauline Spender-Clay Bowes-Lyon (1907-1996). Então caiu a ficha: desacostumada ao sotaque inglês, eu não percebi o final da frase “I am the queen mother’s sister-in-law”. Meu ouvido se reduziu ao sister. Perdendo o significado total da expressão, fui levada ao engano do parentesco. De qualquer modo, sempre posso dizer que conheci pessoalmente uma tia da rainha Elizabeth II!

***

Em abril de 1997 passei 20 dias em Londres com a família da minha irmã no bairro de Pimlico. Toda vez que saíamos para pegar o metrô, passávamos pela Young England Kindergarten, uma pré-escola em que Diana Spencer trabalhou por um tempo como assistente de jardim de infância. Ali na rua havia um outdoor com uma reprodução fotográfica em preto e branco da Lady Di recém-formada. Eu gostava de parar um instante para apreciar a imagem da princesa Diana, que dali a cinco meses estaria morta – quem iria imaginar!

Em 2006, outra vez na capital da Inglaterra, fui à Harrods e lá, ao subir as escadas, me surpreendi com uma grande estátua em bronze de Diana e Dodi Al-Fayed, representando o casal a dançar nas ondas do Mediterrâneo sob as asas de um albatroz. Achei meio kitsch, mas me solidarizei com a intenção de Mohamed Al-Fayed de criar um memorial para seu filho e Lady Di, mortos no mesmo acidente em Paris em 31 de agosto de 1997. Somente no ano passado (2023) é que me interessei em dar outra passada na Harrods. Pois aí já não encontrei mais aquela homenagem aos dois. Sem a imponente estátua – e apesar da nova decoração rebuscada ao estilo egípcio nas escadarias –, a luxuosa loja de departamentos me pareceu sem alma, sem vida.